Inspiração
Procuro a coruja que habita
Meus sonhos anoitecidos pela fuligem do dia.
Ela tem fome, mas seu alimento confunde-se na escuridão.
Seu vôo espalha o pólen cinzento do banco do ônibus,
dos becos, dos elevadores, motéis, bares oníricos...,
e o breu distorce o pio do bacurau agourento.
Onde estará ela?
No perímetro das folhas na copa das árvores?
Nos jornais pela manhã?
No navio ao longe?
Nos olhos de minha namorada?
Nas frases sublinhadas duma literatura absurda?
Nunca vi, mas sua existência,
sem dúvida secreta,
pertuba-me a carne, nos músculos,
resseca as manhãs em retinas impermeáveis por remela.
Talvez esteja em todos os lugares
de meu sonho e por isso não a encontre;
ela é da noite, empoleirada na cica de todas as estrelas,
umas tão distantes que é impossível vê-las.
Não sei por que continuo,
por que ainda caminho pelo adubo inorgânico da relva escura,
se sei que nunca a encontrarei.
Pois que ela habita os sonhos e os sonhos não foram feitos para serem vasculhados
como uma gaveta que guarda o mais valioso verso.
São intangíveis, abstratos e a gaveta está trancafiada.
Só resta espiar pela fechadura.
Tiago Groba
Meus sonhos anoitecidos pela fuligem do dia.
Ela tem fome, mas seu alimento confunde-se na escuridão.
Seu vôo espalha o pólen cinzento do banco do ônibus,
dos becos, dos elevadores, motéis, bares oníricos...,
e o breu distorce o pio do bacurau agourento.
Onde estará ela?
No perímetro das folhas na copa das árvores?
Nos jornais pela manhã?
No navio ao longe?
Nos olhos de minha namorada?
Nas frases sublinhadas duma literatura absurda?
Nunca vi, mas sua existência,
sem dúvida secreta,
pertuba-me a carne, nos músculos,
resseca as manhãs em retinas impermeáveis por remela.
Talvez esteja em todos os lugares
de meu sonho e por isso não a encontre;
ela é da noite, empoleirada na cica de todas as estrelas,
umas tão distantes que é impossível vê-las.
Não sei por que continuo,
por que ainda caminho pelo adubo inorgânico da relva escura,
se sei que nunca a encontrarei.
Pois que ela habita os sonhos e os sonhos não foram feitos para serem vasculhados
como uma gaveta que guarda o mais valioso verso.
São intangíveis, abstratos e a gaveta está trancafiada.
Só resta espiar pela fechadura.
Tiago Groba
2 Comments:
At 7:32 PM,
Gabriel Carvalho said…
é grobão mais um desses seus poemas micro-épicos-pós-mosdernos... A procura da inspiração ainda vai render diversos poemas, mas olhe que os sonhos podem ser vasculhados... Freud(o Raul Seixas alemão) já dizia
At 12:57 AM,
Anônimo said…
Aniversário que já chegou
no coração
vai de rima pobre
amor de amigo-irmão.
é a poesia mais bonita que li nos últimos meses (sem sentimentalismo)
bj
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