Feijoada (quase) completa

Nada melhor do que chamar os amigos pra conversar, tomar uma bem gelada e se esbaldar de comida, de poesia e prosa, de música e melodia, de imagens e memórias, enfim, de amizade. Sem formas fixas, do jeito que a cabeça e a emoção pedir, da maneira que cada um prefere se expressar. Todos os amigos podem contribuir pra que essa feijoada deixe de ser "quase" e venha a ser completa. Um grande beijo nesta saudação inicial dos amigos José Neto e Anadora Andrade.

sábado, 26 de agosto de 2006

Memórias miúdas

(ao amigo Victor Cirino)

Moema, menina
que batia em menino,
tinha medo.
Patricia Moreira Dantas de Araujo,
namorada duradoura
de ano letivo—
nunca namorei tanto,
era namorador!—
nunca ouvi tua voz
nunca peguei tua mão
seus olhos que cor?
Marla, entregadora
das correspondências,
transportava o que era amor.

Surto de piolho,
lápis, régua e estojo
esfregava acabeça ferida
(mas que ninguém
se coçasse durante o Hino Nacional!—
seu Ailton vigiava...)

Escola primária,
tinha passeio pro sítio
do colégio.
Menino de cidade grande
ia ver boi, andar à cavalo,
ver cabra, cabrito, bode...
Dadaça, professora de música,
levava a sanfona.
Eu não queria nada,
queria era bola,
ouvia rock,
gostava de preto,
brincava de briga
sempre com o mesmo golpe
de apertar pescoço,
e o passeio passava
sem ver Patrícia.

No colégio música
Clássica avisava
O início do recreio.
Banho de mangueira,
Pão e suco na merendeira
do Rambo.
Os meninos escapavam:
roubavam papel de carta das meninas.
Menos as de Patrícia.
Eu não deixava.
Gostava muito dela.
E o recreio era longo.
Victor, o pior,
queria pular a janela
da sala de arte,
roubar pilot,
pichar banheiro,
gostava muito de tomar as coisas,
borracha,
figurinha, bala no baleiro,
prova, papel de carta,
lapiseira, agenda,
caneta...

Fim do recreio,
a gente voltava
no meio da fila, com os bolsos
munidos de pilots.
"Alecrim, alecrim dourado
que nasceu no campo
sem ser semeado".

Tiago Groba

4 Comments:

  • At 4:23 AM, Blogger Raiça Bomfim said…

    adoro!

     
  • At 9:22 PM, Blogger tgroba said…

    Ae, raiça, se já nao o tiver, o livro de Drummond, Esquecer Para Lembrar, de poemas de sua infancia em Itabira, é algo assim incomparavel.
    Só o titulo já é um poema...e um grande incentivo, porque nao lembrava de muita coisa da poesia nao...
    bj

     
  • At 1:13 AM, Blogger Raiça Bomfim said…

    Brigada pela indicação, nêgo. Não tenho esse, não. E acho que vou adorar. Adoro memórias, saudade e Drummond... Enfim... rs

     
  • At 9:52 PM, Anonymous Anônimo said…

    gente!!kd os poemas de vcs??(e os meus tb,diga-se d passagem...).
    vamo publicar,num pode parar não!!!
    bjos

     

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