Mulher Lúcida
“Você é um rei em baixo do sol?”, “Não!”, “Porque não?” “Aliás sou”. Confuso, o olhar perfurava-me, cutucando a linearidade que me faz crer lúcido. Se afasta como se do contato não mais precisasse. Busca outros. Oferece , sem resposta, a tâmara recheada que conseguira num movimento ágil diante do garçon de passos rápidos e bandeja estendida no alto. Em vão, estátua de mau gosto, arte não apreciável, imobiliza-se diante das três damas que fingem não perceber a criatura com a sobremesa. Indiferente desiste, se aproxima novamente e me oferece, “tâmara recheada?!”, hesito um pouco, tomo de sua mão e como. “Tem gosto de que?”, pergunta meio irônica, meio misteriosa, “tâmara recheada” respondo sem pensar, “e tem gosto de que?”. Atordoado imagino por um instante que ela acrescentou alguma coisa, sei lá, cuspe, urina, veneno de rato, ela é louca porra , “só se foi o garçon” responde com um meio sorriso depois da acusação. “Você sabe escrever?”, respondo que sim após um curto silêncio. Ela tira do bolso um caderninho semi-novo de capa bonita, pequeno, desses de anotação. “Escreva alguma coisa!”. Sem demora pego o caderno, escrevo um poema, Pouco talento ou pouco saber, tento em vão escrever, o que? Qualquer coisa li, vi , ouvi(r); talvez deva mais ouvir!” Poucos dos versos meus que tenho de cor. Devolvo, meio satisfeito, um pouco orgulhoso. Ela pega, olha por um momento, fração de segundo que não daria nem pra ler o título que não tem. Sem cerimônia, desdobra as folhas, guarda o caderno e vai embora.
Lineu Oliveira
Lineu Oliveira
3 Comments:
At 9:05 AM,
Anônimo said…
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At 5:58 AM,
Anônimo said…
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At 7:32 PM,
Anônimo said…
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