Madrugada
A madrugada adormece
após o gozo singelo
tomado delicadamente de mim.
O escuro e o frio não são mais tão inseguros
porque a envolvo em meus sonhos.
Ainda assim sufoca sua alma.
É tão irremediável
que meus braços
são a opressão mansa e imutável
que experimenta cada povo
ao longo da estória.
A solidão livre é uma escolha
que ninguém poderá lhe negar.
Jamais será impedido
ou esclarecido de modo suficiente
ou cantado sem minhas lágrimas
seu alívio em contrapartida.
Um prazer duvidoso
e mais denso a espera.
Um rubor que encontrou e perdeu em mim.
Fatal descobrir, à tardinha,
que o encanto do que é efêmero
só tem tal essência
por ser, simplesmente, ausência.
Assim como a dedicatória
que permanecerá esquecida
na folha em branco.
José Neto