Feijoada (quase) completa

Nada melhor do que chamar os amigos pra conversar, tomar uma bem gelada e se esbaldar de comida, de poesia e prosa, de música e melodia, de imagens e memórias, enfim, de amizade. Sem formas fixas, do jeito que a cabeça e a emoção pedir, da maneira que cada um prefere se expressar. Todos os amigos podem contribuir pra que essa feijoada deixe de ser "quase" e venha a ser completa. Um grande beijo nesta saudação inicial dos amigos José Neto e Anadora Andrade.

domingo, 26 de novembro de 2006

VERBETE I

Mudar pra caber dentro do copo, que vazio está cheio de ar.
Buscar essa história perdida
- sou romantica por conta dos contratempos da vida.


VERBETE II

Desde o dia que te encontrei,
vi o espelho quebrar
desde o dia que te encontrei
achei razão, vivi sem pedir perdão
desde esse dia... - amores não são tão importantes assim...

Iara Canuto

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Eu e tantos

Os outros me são eu, de longe, tranqüilo, intocável.
Sou uma fêmea com fecunda prole de mim extraviada pelas ruas.
Uns maduros, alcoólatras, românticos, outros tristes, alegres,
Folhas de caderno avulsas nos bares:
Folhas caídas de meus invernos de menino.

Comia palavras na redação.
A pró era severa: não serás entendido, Tiago. Não se esconda!
As pessoas não têm tempo para adivinhar o que escreve!
Mas eu tinha fome, de mim.
E comia todas as palavras,
me consumia,
me escondia,
quieto,
nos outros.
Hoje como frases, períodos, parágrafos inteiros de mim.
Tranco-me em mim mesmo:
Sou eu e ainda sou alguém,
Não sei mais quem sou,
Em mim nem em ninguém.

Tiago Groba

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Vigésimos andares

Empinando pipa
vigésimos andares
livre do pus que atormenta a carne
que não deixa dormir
até explodir e feder
todo o fedor que há por dentro
e não é pouco.

Empinando pipa
vigésimos andares
longe da mágoa fincada entre irmãos
que cristãos ou não
(isto pouco importa)
se batem,
se explodem,
se fodem
num foder bem vagaroso
nuclear, global
plantam trigo, plantam soja
até mentira no jornal.

Daqui do alto
Falta-me a coragem
pra pegar a pipa
que enroscou no poste
feito um laçarote colorido,
faz é pena
ser partido.

Daqui do alto
não quero descer,
simultânea resposta:
fugir pra que?

Anadora Andrade

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Quando a rima é de coração

o que tenho a dizer
é tanto e tão pouco
é um versinho torto
é imaginação

é palavra divina
Valiosa,
Pequenina,
Cabe na palma da mão

São tristes alegrias
Sol de meio-dia
Escuridão

é amor que não sentia
dor que silencia
Doce ilusão.

Iara Canuto

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Melhor que fique quietinho
o que já nasceu tortinho,
num viés, assim, repartido,
entre o faz e o não-faz sentido.

Fada

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Ansiosa

Ansiedade para os psicólogos é medo do porvir,
para Clarice borboletas no estomago,
para a reles poeta é muito difícil sentir.

Amanhã vai ser igual
calma, calma
vai passar
Sonhos também mentem
bem mais até que ela
e plenamente.

Anadora Andrade

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Bico de pena


Peço que perca essa pena
Não quero que me escreva
Assim...tão de leve...

Suas palavras não permitem
(nem você consente)
Um minuto de descanso.

Rogo, queime essa pena!
E de suas palavras escorrem
Tinta negra e espessa no papel.

Seus versos descrevem
Meu olhar inquisidor,
Minha tinta em confusão.

Afaste o bico do papel, quebre-o!
E a caneta habilmente
Desliza sobre a minha tela

Minhas cores não querem conforto!
Nem sua falta de alegria...
Não quero bico de pena.

Sim, fecho os olhos.
E ordeno: esconda-a!
Mas eis que encontrei
Um bico de pena
Dentre os meus pinceis.

Cida Mello