Feijoada (quase) completa

Nada melhor do que chamar os amigos pra conversar, tomar uma bem gelada e se esbaldar de comida, de poesia e prosa, de música e melodia, de imagens e memórias, enfim, de amizade. Sem formas fixas, do jeito que a cabeça e a emoção pedir, da maneira que cada um prefere se expressar. Todos os amigos podem contribuir pra que essa feijoada deixe de ser "quase" e venha a ser completa. Um grande beijo nesta saudação inicial dos amigos José Neto e Anadora Andrade.

domingo, 30 de abril de 2006


Canto,
melodia em desafino,
pois é descompasso: eu e a vida

Diriam vácuo, não som.
E ensurdece, o ruído
sem tom.

No refrão dos dias,
minha canção é rouco silêncio.
E a vida, samba desconhecido
que embala qualquer um,
esquece de mim.


Christiane Alves

(Sem nome) I


Ainda que sonhos bons se acabem
e versos tão doces se calem
segue a chover no inverno
e a se esperar o verão...

Como se esperam palavras!
Sinceras ao pé do ouvido.
Mas que têm o tempo contado, estreito.
Até que você não seja mais
ou volte a ser o que não vi.

Mas versos expurgam, exorcizam
anjos caídos desatentos.
E apagam passados, presentes, futuros.
E o vento traz novas palavras ao pé do ouvido.

Também rapidamente sinceras,
sinceramente efêmeras.
Como o rio que corre.
Como a vida caudalosa.
Negando-se a sentar e esperar.

Zé(Neto)

sábado, 29 de abril de 2006

Anônimo Antônio

Vai descuidado anônimo
que agora é Antônio
Seu mergulho cômico
Seu amor daltônico
Sua camada de ozônio
Não existe mais.
Findou-se a agonia
E era você quem bem queria
que ela o deixasse em paz.
Não, nem mude de assunto
que você cá neste mundo
tanto fez ou tanto faz
é o mesmo sempre,
sempre o último ao percorrer
a galeria dos seus ais.

Vai descuidado Antônio
que agora é anônimo
Sua camada de amor
É o que fica pra trás.


Anadora Andrade e Tiago Groba

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Nota


Curioso...
Uma nota perdida
nesta vastidão triste.
Nesta noite sem estrelas, lua ou sentidos.

Mas esse pingo de som
ultrapassa todas as barreiras.
Então, por quê não se dar conta?
Nesta vastidão triste
tantos odeiam, dançam, se perdem.
Tantos olham, suspiram e partem.

Uma nota “apenas”.
Sozinha como meus pensamentos a esta altura.
Porém se propaga como a própria noite.
Invade cada casa, cada canto e cada coração.

Até que venha a chuva forte
e a engula no meio dela.
E a faça sumir.
Até outra noite sem lua, sem estrelas.
Desta vez com meus sentidos atentos
esperando outra magnitude minúscula.

Solitária,
no entanto, possuidora da própria noite.
Calma; ainda seremos plenos de nós a cada pedaço.
Como esta nota, em si, plena de som.

Zé Neto

Saia Azul

A baiana da saia azul
que procurei fudida e torta
deu-me um banho de pipoca
pra limpar os seis sentidos
A baiana da saia azul
assim como quem nota
deu-me um abraço
deu sua bença
justo eu que sou sem crença
dei foi logo a recompensa
fui embora mais sentida.

Anadora

quarta-feira, 26 de abril de 2006

Feijoada completa


Mulher
você vai gostar
tô levando uns amigos pra conversar
Eles vão com uma fome que nem me contem
eles vão com uma sede de anteontem
Salta cerveja estupidamente gelada prum batalhão
e vamos botar água no feijão

Mulher
não vá se afobar
não tem que por a mesa,nem dá lugar
põe os pratos no chão e o chão tá posto
e prepara as linguiças pro tira-gosto
Uca,açuca,cumbuca de gêlo e limão
e vamos botar água no feijão

Mulher
você vai fritar
um montão de torresmo pra acompanhar
arroz branco,farofa e a malagueta
a laranja-bahia ou da seleta
Joga o paio,carne-sêca,toucinho no caldeirão
vamos botar água no feijão

Mulher
depois de salgar
faz um bom refogado que é pra engrossar
proveita a gordura da frigideira
pra melhor temperar a couve-mineira
diz que tá dura,pindura,fatura o nosso irmão
e vamos botar água no feijão

Chico Buarque